Raiva Bovina: atente-se aos sintomas e riscos da doença à saúde do rebanho
A Raiva é uma doença que já matou milhares de bovinos em todo o Brasil, e que traz incontáveis prejuízos para o produtor – e para a saúde tanto dos animais, quanto dos humanos.
Dentre suas principais características como doença, temos que a Raiva é considerada quase 100% letal, levando a óbito praticamente todos os contaminados, sejam eles animais ou seres humanos. No casos dos bichos, a evolução clínica da enfermidade pode levar apenas 10 dias até levá-los à morte.
Segundo dados de 2017 da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, é estimado que mais de meio milhão de herbívoros domésticos (bovinos, equinos, caprinos e ovinos) morram por ano na América Latina em decorrência da doença. Esse número pode ser ainda maior, considerando que é comum que ocorra uma subnotificação dos casos, devido tanto a questões culturais, quanto à dificuldades de acesso dos serviços de defesa sanitária dos países.
Quais são os principais sintomas da Raiva?
- Perda de apetite e, consequente, anorexia;
- Coceira;
- Claudicação;
- Aparência de asfixia e gritos;
- Espasmos musculares e convulsões;
- Inquietação;
- Mudança nos hábitos dos bovinos;
- Marcha cambaleante;
- Excesso de salivação;
- Fezes secas e escurecidas;
- Animais tendem a ficar ocasionalmente agressivos.
Como diagnosticar a doença?
A raiva é uma doença infecciosa, causada pelo vírus da família Rabdovírus, que é transmitido no Brasil principalmente através do ataque de morcegos hematófagos da espécie Desmodus rotundus, pertencente à família Phyllostomidae.
Ela afeta o sistema nervoso, sendo disseminada a partir da saliva de um animal infectado, através da mordida ou salivação que entre em contato com uma abertura na pele (feridas) ou membranas mucosas (olhos, nariz ou boca).
Ademais, pelo fato do morcego ser um mamífero alado, ou seja, capaz de voar de maneira independente, é extremamente complicado que haja o controle das colônias. Para se ter uma ideia, uma única colônia de morcegos pode abranger uma área de cobertura superior à área de muitos municípios do Sudeste do país. Além disso, são animais que podem voar, em um único dia, mais de 30km em linha reta.
Outro ponto que dificulta no controle do transmissor é que seu amplo raio de ação não permite que os morcegos sejam vacinados em massa, o que permitiria que a doença fosse erradicada. O conhecimento acerca da vacinação em morcegos também é restrito quando comparado com os humanos, sendo um bicho com a biologia ainda pouco estudada.
Por isso, o produtor não deve esperar que parte do seu rebanho – ou ele todo – seja infectado para investir na prevenção da Raiva em sua propriedade, pois esta ainda é a única maneira de garantir a segurança tanto do gado quanto dos humanos que convivem com os animais.
Como ocorre o diagnóstico da Raiva?
Em primeiro lugar, deve ser observada a presença de um quadro de paralisia, que se inicia nos membros pélvicos, passando para os membros posteriores e progredindo para uma paralisia total. O animal poderá, então, apresentar hipersalivação, permanecendo deitado na maior parte do tempo.
Após o óbito do animal, é importante que seja feita a necrópsia, para concluir que a causa da morte foi a Raiva e não outras doenças, visto que sinais nervosos podem ser confundidos com outras enfermidades que dividem os mesmos sintomas. Dessa maneira, é necessário coletar o material do sistema nervoso central, assim como do encéfalo e da medula, encaminhando-o para um laboratório especializado.
Controle da Raiva e prevenção
Antes de dar início ao controle da Raiva em sua propriedade, é fundamental que o produtor compreenda que, diferente do caso de cães e gatos, a Raiva Bovina não oferece cura.
Isso ocorre pois, enquanto os animais domésticos são os principais mantenedores e transmissores do vírus, o morcego hematófago Desmodus rotundus é o agente transmissor da Raiva Bovina. Dessa forma, é uma doença não passível de erradicação.
De acordo com o Manual de Controle da Raiva dos Herbívoros, existem duas diretrizes que podem ser seguidas visando o controle adequado da transmissão: os métodos seletivos direto e indireto.
No Método Seletivo Direto, são necessárias equipes treinadas e capacitadas para atuar dentro das normas de biossegurança, visto que existem riscos durante a execução da técnica. Ela pode ser executada em abrigos naturais ou artificiais (a exemplo de grutas, furnas, túneis, ocos de árvores, etc.) ou nas fontes de alimentos (currais, pocilgas, galinheiros, etc.). Trata-se da captura do D. rotundus com redes de neblina, em que são aplicados produtos anticoagulantes em seu dorso, sendo o animal liberado em seguida.
Dessa maneira, ao retornar para os abrigos, os morcegos irão entrar em contato com os outros animais, difundido o produto entre os mesmos. É proposto que, para cada animal devidamente tratado com a pasta anticoagulante, 20 outros morcegos virão a óbito em um período de 4 a 10 dias.
No Método Seletivo Indireto, são aplicados dois gramas da pasta anticoagulante ao redor das mordeduras dos animais espoliados. Nessa técnica, são eliminados apenas os morcegos hematófagos espoliadores do animal agredido. Além disso, deve ser realizada a cobertura vacinal completa e sistematizada dos rebanhos que residem em áreas de médio e alto risco para a transmissão da Raiva.
A ação de reduzir a população do D. rotundus é complexa e onerosa, e deve ser feita exclusivamente após a autorização dos órgãos de controle ambiental específicos. Por isso, não deve ser feita pelos produtores, e sim por profissionais que estejam sob coordenação dos órgãos de Defesa Sanitária Ambiental.
Por fim, quando o gado deve ser vacinado contra a Raiva?
Após a verificação de que a propriedade se encontra em área de médio a alto risco de transmissão da doença, o veterinário pode dar início a vacinação antirrábica. É preciso considerar que quase todos os estados do Brasil com criação de grandes rebanhos de bovinos estão inseridos neste tipo de classificação.
Assim, todos os herbívoros (bovinos, equinos e pequenos ruminantes) da fazenda devem receber a primeira dose da vacina entre os quatro e cinco meses de vida. Para os animais que foram vacinados nessa idade, mas que estiverem em um rebanho com histórico recente de Raiva, é recomendado que seja aplicada uma dose de reforço após 30 dias. Além disso, animais recém introduzidos na propriedade também devem receber a imunização.
O Calendário Sanitário do rebanho deverá incluir a revacinação anual do plantel, podendo ser ajustado para coincidir com a data das demais vacinas obrigatórias. A Raiva é uma doença fatal também para os seres humanos. Por isso, tanto o produtor quanto seus funcionários devem evitar o contato com a saliva de herbívoros que apresentem sintomas da doença, assim como não devem fazer tentativas de necropsia por conta própria.
Em casos de quaisquer suspeita da doença, um veterinário de confiança ou o veterinário oficial da Defesa Sanitária Animal (DSV) deve ser chamado imediatamente, pois só o mesmo possui treinamento técnico e imunização para coletar material dos animais infectados, a fim de confirmar o diagnóstico.
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Fontes: MilkPoint; Canal do Boi; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; BeefPoint.
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